O que eu percebi de mais legal dentro dessa narrativa até agora, é
que em um momento você está num lugar e no instante seguinte há um corte,
explicitado, que te leva para um lugar totalmente diferente do que você estava.
Como se aquela cena tivesse acabado. As imagens são nítidas, muitas vezes
provocam ânsia ou repulsa. As personagens são livres, tudo pode acontecer. O
que o leitor pensa que é, não é, e assim é surpreendido o tempo inteiro pelos
sentimentos e intenções de uma personagem em relação a outras. Em Harmada, o
protagonista começa deitado em chão de terra lamacento, algo como um mangue e
dali, vai para sua casa, toma um banho e de repente está num bar, onde conversa
com um rapaz e depois vai até o matagal com um manco e eles entram num rio. O
começo do livro parece não ter conexão nenhuma com o restante. Parece que o
narrador está engrenando um carro que está dando trabalho pra pegar mas, em uma
conversa com Bruce, quase nas últimas páginas do texto, eles falam sobre esse
matagal e falam sobre um manco que vendia balas. A história que relembram é
diferente da história contada no começo do livro, porém, a personagem do manco
e o matagal permitem fazer essa conexão. É um livro gostoso de ler e provocador
ao mesmo tempo, que faz com que você se depare com algumas quebras de questões
morais que estão enraizadas, mas que são tratadas com naturalidade pelas
personagens do livro.
sexta-feira, 13 de abril de 2018
Harmada - João Gilberto Noll
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